SOBRE O PROJETO PROMETEU

O Projeto PROMETEU pesquisa os incêndios florestais e o combate, principalmente o combate químico, isto é, com retardantes de chamas e produtos assemelhados. A extensão universitária é um ponto forte, e lastreia o diálogo com parceiros diversos, como o IBAMA, ICMBio, Corpos de Bombeiros e órgãos seccionais.

No Brasil, temos uma normativa frágil sobre este assunto, e o Projeto PROMETEU aborda isso observando as melhores práticas para conservação da biodiversidade, visto que o combate químico pode trazer benefícios (impactos positivos), mas certamente acarreta em efeitos adversos (impactos negativos) em diferentes aspectos, o que exige um olhar transdisciplinar sobre o tema.

O filme mostra a algumas etapas dos experimentos de campo, com o monitoramento das condições meteorológicas, a organização das parcelas de queima, instrução das diferentes equipes, aplicação de retardantes, queima e avaliação laboratorial e organização dos resultados.

Fogo, queimada e incêndio são conceitos distintos, porém relacionados. O fogo é um processo físico-químico, uma manifestação visível da queima do combustível. Ali, o combustível (ex. capim) é oxidado pelo comburente (ex. oxigênio). É um fenômeno extremamente complexo, visto que as reações químicas não ocorrem necessariamente na exata interface entre o ar e o combustível (sólido ou líquido), mas numa determinada camada em que gases inflamáveis que se desprendem do combustível aquecido (pirólise) e sofrem uma reação química exotérmica e violenta, por vezes explosiva.

A maioria das pessoas acredita que o combustível sólido (como a vegetação seca) queima da mesma forma que os gases inflamáveis. Na verdade é bem diferente, pois não é possível uma reação química entre o oxigênio e o tecido vegetal, simplesmente porque o gas não penetra e nem se mistura ao tecido. O que ocorre é a PIRÓLISE, ou seja, o combustível aquecido libera gases inflamáveis e esses gases que realmente reagem com o oxigênio, produzindo o fogo. Ao observar a vegetação queimando não é fácil notar isso, mas se olharmos para o detalhe do pavio de uma vela queimando (e sendo apagada), podemos perceber que a combustão não ocorre no exata superfície do combustível.

O fogo mais comum no nosso cotidiano está num fogão a gás. Ali ele é desejado, está dentro de nossas casas, não é danoso e é controlado. Num incêndio, ocorre o oposto. Um incêndio florestal é exatamente o fogo descontrolado na vegetação, que pode ter origem natural, como os raios, mas que é geralmente de origem humana, seja por ato criminoso deliberado ou acidental. Também pode se originar quando uma queimada perde o controle. A queimada, por sua vez, é o uso intencional do fogo, não acidental, que pode assumir dimensão de incêndio quando não tomados os devidos cuidados, ou em situações adversas, como nas rajadas e mudanças bruscas e imprevisíveis dos ventos. Apesar da diferença, a palavra queimada tem sido usada equivocadamente como sinônimo de incêndio. Assim, usamos mais frequentemente o termo queima controlada, que significa o uso do fogo intencional e sob monitoramento constante e controle, algo que pode ser usado para fins agrosilvopastoris ou científicos, que é o nosso caso. Um termo bastante empregado, sobretudo após a aprovação da Política Nacional do Manejo Integrado do Fogo é queima prescrita, que também mantém o controle e o monitoramento do fogo, mas que não é voltada para fins agrosilvopastoris, mas sim à conservação, pesquisa e ao manejo.

Assim, a queima de áreas naturais, com fins científicos, é uma prática no projeto Prometeu. Ela sempre é feita sob rigoroso controle de segurança e com a devida licença ambiental e sua publicidade.

Portanto, o projeto Prometeu se ocupa de observar o fogo sem controle e o esforço humano (pessoas e instituições) em retomar o seu controle pelo combate químico e sob uma ótica de resguardar o meio ambiente e o bem estar social. Obviamente, isso é de um notável desafio científico.

Embora a preocupação central do Projeto Prometeu esteja na vegetação nativa, na prática não podemos pensar somente nas áreas conservadas. A razão é simples: o fogo percola a paisagem, atravessa áreas de vegetação plantada, como silvicultura e agricultura, gramados, etc. O fogo pode saltar trechos sem combustível, como rodovias, rios, ou aceiros, principalmente diante de condições adversas como alta inflamabilidade do combustível, umidade do ar baixa, temperatura alta, ventos fortes e relevo em aclive.

O fogo não respeita limites fundiários ou fronteiras políticas. O fogo numa área de pastagem plantada pode avançar sobre uma unidade de conservação. O fogo iniciado na interface das cidades pode atingir áreas sensíveis, adentrar terras indígenas e territórios quilombolas. Enquanto houver continuidade de combustível, saldo positivo de energia na combustão e condições de queima, o incêndio prosseguirá. Portanto, mesmo com a preocupação votada às áreas naturais, precisamos pensar o combate em outras áreas com menor valor ecológico. Quem, até mesmo, seja ali o local para o qual o combate químico deva ser direcionado, visando evitar impactos os negativos sobre áreas de alto valor ecológico.

 

Há três focos importantes no projeto Prometeu:

1) Foco nas condições criadas pelos incêndios:

O incêndio destrói propriedades, lavouras e máquinas e afeta a vida das pessoas. Mata animais e plantas e deixa cinzas sobre o solo, gerando uma grande carga química para recursos os hídricos superficiais, como rios e lagos. Incêndios também lançam gases tóxicos e partículas para a atmosfera. A poluição atmosférica, é a nossa preocupação mais imediata, exatamente por colocar em risco o bem estar do combatente, principalmente no combate direto, ou seja, quando o combate é feito diretamente no enfrentamento às chamas. Nestas condições, o combatente experiencia um intenso calor e uma atmosfera extremamente insalubre, sendo os principais sintomas percebidos na pele, nas narinas e boca, e nos olhos. A fumaça do incêndio é uma mistura de gases (vapor de água, CO2, CO, NO, NO2, SO2 etc), material particulado (MP) e compostos orgânicos voláteis (COV), cuja composição é muito variada e dependente das características da vegetação e das temperaturas no meio em combustão.

Um dos aspectos principais que investigamos é a concentração de monóxido de carbono (CO) e material particulado (MP) fino (até 2.5µm) e grosso (até 10µm), e como isso pode afetar o bem-estar do trabalhador florestal.

O projeto Prometeu mapeia tais poluentes no meio do incêndio e busca contribuir para a melhoria das condições laborais do brigadista, visto que o nível de exposição à poluição pode ser determinante de ações preventivas, mitigadoras ou compensatórias.

Temperaturas acima de 800 graus e calor suficiente para derreter alumínio. A aproximação das chamas para o combate direto pode ser impraticável, mesmo com os melhores equipamentos de proteção. Os gases e o material particulado da atmosfera também geram as piores condições possíveis. Esses são apenas alguns dos aspectos acerca da insalubridade do trabalho no combate florestal. O Projeto PROMETEU busca conhecer em detalhes estas condições, visando balizar políticas de vigilância à saúde o e bem-estar das pessoas que se dedicam à manutenção dos serviços ecossistêmicos por meio do manejo do fogo e do combate aos incêndios.

2) Foco no combate ao incêndio:

A paisagem do incêndio é extremamente complexa. Em um dado momento, é composta por áreas que já queimaram, áreas que estão queimando, áreas susceptíveis à queima e áreas não susceptíveis à queima.

O combate direto (terrestre ou aéreo) se dá exatamente na fronteira entre a área que está queimando e a área susceptível à queima. É ali que a equipe de combate enfrenta diretamente o fogo. O combate indireto, por outro lado, ocorre numa posição mais avançada, geralmente numa área suscetível à queima. É ali que são adotadas algumas estratégias clássicas, geralmente enquadradas como de linhas de defesa, que incluem a linha fria, a abertura de aceiros e o contrafogo.

O combate direto utiliza ferramentas diversas, como bombas costais (pulsáteis), abafadores e sopradores. Um combate direto eficaz depende da articulação destas ferramentas, em sequencia apropriada, a depender do bioma. As aeronaves de asa rotativa e fixa se prestam tanto ao combate direto quanto ao indireto, onde também tem lugar as técnicas de contrafogo, linhas frias e combate químico com retardantes de longo prazo.

1) Foco nos retardantes de chamas:

Alguns fabricantes afirmam que seus produtos não são retardantes químicos, visto não ter atuação química. Outros também dizem não serem retardantes, mas anti-chamas. Por vezes são chamados de aditivos para combate. Independentemente desta argumentação, empregamos o termo "Retardante Químico de Chamas" por alguns motivos:

a) Embora a atuação de um produto sobre as chamas possa ser física, como é o caso das espumas, sempre existirá uma formulação química associada, e o seu emprego inevitavelmente incorrerá numa carga química ao ecossistema.

b) Não se espera que qualquer produto químico opere como extintor ou supressor de chamas. Na prática, em um linha de fogo florestal teremos locais em que o fogo realmente extinguirá, porém não em todos os pontos. Sempre existirão cabeças de fogo ativo, mesmo que lentas, por onde as chamas deverão seguir até atravessar um aceiro químico. Basta uma dessas cabeças de fogo, e o incêndio logo retornará às proporcões anteriores. No entanto, espera-se que toda frente de fogo deverá ter sua velocidade reduzida e as temperaturas amenizadas, de forma a facilitar o combate direto. Portanto, temos o retardo das chamas, sendo conveninte chamar aqueles produtos de retardantes químicos de chamas.

Os produtos químicos retardantes de chamas podem ser usados em combate direto ou indireto, mas isso depende muito de uma série de fatores, o que torna o combate químico um desafio muito grande, não somente pela complexidade da operação, mas também pelos impactos financeiros, operacionais e ecológicos, os quais podem perdurar por vários anos.

O filme acima mostra um dos cenários apropriados para o combate quimico. Outros cenários são possíveis, mas todos eles deverão contar com o combate direto por equipe em solo, visto que o retardante de chamas não conduz à extinção, tão somente melhora as condições de enfrentamento direto às chamas, com métodos convencionais pela equipe de solo. Fica claro que é necessário não apenas uma aeronave, mas uma frota delas (asas fixa e rotativa) e uma articulação com uma experiente equipe em solo. Também se destaca a importância do corante (marcador cromático) no retardante, sem o qual fica impossível fazer linhas de defesa química contínuas e, mesmo sequer seria possível posicionar adequadamente as equipes em solo. A comunicação entre as equipes de solo e ar é fundamental, desde a seleção do local para formar o aceiro químico, até a liberação da faixa para evitar incidentes/acidentes de lançamento de carga sobre brigadistas. Contudo, as regras do ar não permitem o uso de frequenica radiofônica aeronáutica para equipes de terra, e nem a instalação de rádios não aeronáuticos em aeronaves, o que sugere o uso de aeronaves biplace (piloto e copiloto), onde o monitoring pilot (copiloto) se encarregaria da articulação ar-terra por meios alternativos.

Projeto PROMETEU
Coordenação: Carlos Henke de Oliveira (carloshenke@unb.br)

Laboratório de Ecologia Aplicada | Departamento de Ecologia | Instituto de Ciências Biológicas | Universidade de Brasília (Campus Universitário Darcy Ribeiro) | Brasília-DF | CEP 70910-0900.

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