OBJETIVO E PERGUNTAS

O Projeto Prometeu se propõe a fazer pesquisa científica sobre os impactos ambientais dos incêndios florestais e seu combate químico, fazendo extensão universitária com base nos achados.

O pleno entendimento deste objetivo, requer assumir que o impacto ambiental não se limita aos puramente ecológicos, tais como os impactos que incidem sobre a fauna, a flora, os solos, a água e o ar. O conceito de ambiente por nós adotado está além do biofísico. Assim, também nos interessa aqueles impactos no meio sócio-econômico-cultural e, portanto, político. Desta forma, é posto que os impactos dos incêndios florestais e seu combate químico também incidem sobre as pessoas, principalmente os combatentes brigadistas, populações tradicionais e as instituições e suas finanças. A depender de fatores meteorológicos e topográficos, os impactos também podem ser percebidos a maiores distâncias, incluindo as aldeias, vilas e cidades, também sendo objeto de interesse do Projeto Prometeu.

Um axioma importante é que um impacto não é exclusivamente negativo. Um mesmo agente, ação ou processo pode incidir direta ou indiretamente e negativamente sobre alguns componentes do ambiente, porém positivamente sobre outros. É verdade que isso traz um maior grau de complexidade para a análise dos impactos ambientais dos incêndios frente ao seu combate químico. Assim, o cumprimento adequado dos nossos objetivos requer uma análise transdisciplinar, posto que a integração do conhecimento em diferentes áreas do conhecimento é indispensável visando a tomada de decisão numa perspectiva de emergência ambiental em que são necessárias análises biológicas, químicas, sociológicas, geográficas, sanitárias e políticas, aspectos sine qua non para a ciência aplicada e a extensão universitária na temática da gestão dos recursos naturais.

De onde veio a pergunta original?

Não existe uma boa resposta sem que antes haja uma boa pergunta. E, frequentemente as melhores perguntas não são feitas na academia e nem nas fábricas de retardantes de chamas. Aí reside a importância da extensão universitária, sobretudo quando o assunto é de elevada complexidade, onde é fundamental o diálogo para que haja a formulação de boas perguntas e a plena compreensão daquelas questões previamente elaboradas. Este é exatamente o caso do combate químico aos incêndios.

É comum e esperado que os vendedores de retardantes de chamas e tecnologias correlatas cheguem às agências e corporações que lidam com o combate, e ofereçam tecnologias, portanto, respostas. Porém, também é muito comum encontrar vendedores que não conseguem ofertar uma boa tecnologia, tão somente porque ainda não conseguiram observar as eventuais inadequações da sua proposta frente à realidade do combate. Um exemplo típico são alguns produtos que, independentemente da sua efetividade no retardando às chamas em ambiente laboratorial, não são úteis em operações reais de combate, dadas suas características físicas ou químicas. A lista de limitações é longa, que vai desde a inexistência de corantes (sem os quais, o combate aéreo indireto torna-se limitado), inviabilidade de uso das concentrações e taxas de aplicações prescritas pelo fabricante (ex. 2 litros / m2 não oferece vantagem alguma, se comparado ao combate direto com água), viscosidades elevadas (que impedem o funcionamento das motobombas de mistura), formação de precipitados e presença de materiais abrasivos ou com muita formação de espuma (emperram, desgastam ou retiram a lubrificação dos equipamentos), a exalação de fortes odores (ex. vapor de amônia), até o longo tempo de preparo da solução (ex. produtos que exigem mais de 20 minutos de agitação antes da aplicação, sob pena de formação de precipitados). Alguns produtos de alto desempenho e com facilidade de uso, também apresentar toxicidade aos ecossistemas num nível inaceitável, que inclui a morte da vegetação e o estabelecimento de um ambiente biologicamente degradado por vários anos. Há, porém produtos de melhor desempenho, mas cujos impactos podem ser aceitáveis, a depender da severidade do incêndio e dos seus riscos socioambientais e institucionais. Há, portanto, um gradiente entre um mínimo e um máximo dos impactos, sejam negativos ou positivos. Assim, a pergunta fundamental deve ser respondida no contexto local, para cada caso, para cada incêndio. Ao se decidir pelo combate químico, deverá o operador saber que os efeitos adversos tomarão parte, sendo notados já próximas semanas ou meses. Os impactos negativos não deverão ser ignorados, mas conhecidos, para que se decida sobre a necessidade, ou não, de monitoramento, mitigação ou recuperação ambiental.

No Projeto Prometeu, entende-se que o dialogo com o SISNAMA deva ser constante. O SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente), é constituído por Órgão Central (Ministério do Meio Ambiente), Órgãos Executores (ex, IBAMA e ICMBio), e Órgãos Consultivos/Deliberativos (ex. CONAMA), além de órgãos seccionais e locais, e do próprio Conselho de Governo.

Essencialmente, os órgãos do SISNAMA são questionados sobre o emprego do combate químico. Isso se dá desde a constante oferta de retardantes de chamas por fabricantes e vendedores, até as organizações não governamentais que demonstram grande preocupação com os possíveis efeitos adversos dessas tecnologias sobre o ambiente. Setores que operam turismo de natureza e populações tradicionais também manifestam preocupação equivalente. O Projeto Prometeu entende que neste cenário de opiniões diversificadas e perguntas originais, residem condições ideais para a extensão universitária e a pesquisa científica aplicada.

Projeto PROMETEU
Coordenação: Carlos Henke de Oliveira (carloshenke@unb.br)

Laboratório de Ecologia Aplicada | Departamento de Ecologia | Instituto de Ciências Biológicas | Universidade de Brasília (Campus Universitário Darcy Ribeiro) | Brasília-DF | CEP 70910-0900.

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